28 de março de 2013

TRABALHO PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL-A BRINCADEIRA E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO E DA CRIATIVIDADE

CONTEÚDO PARA ALUNOS DA FORMAÇÃO DE DOCENTE

A BRINCADEIRA E O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO E DA CRIATIVIDADE


       O jogo humano requer a capacidade de se relacionar com diferentes parceiros e com eles comunicar-se por meio de diferentes linguagens, para criar o novo e tomar decisões. É algo culturalmente determinado.

O JOGO SIMBÓLICO também conhecido como faz deconta, é ferramenta para a criação dafantasia, necessária a leituras não convencionais do mundo. Abre caminho para a autonomia, a criatividade, a exploração de significados e sentidos. Atua sobre a capacidade da criança de imaginar e de representar, articulada com outras formas de expressão. São os jogos, ainda, instrumentos para aprendizagem de regras sociais.

 Apesar de atualmente ainda existir a ideia de que brincar serve apenas como distração ou divertimento para ocupar o tempo dos mais pequenos, os estudos têm revelado a importância desta atividade para o desenvolvimento integral das crianças.

Brincar é indispensável para a saúde física, emocional e intelectual da criança. Para além de lhe trazer satisfação, promove o seu desenvolvimento pessoal, social e cognitivo, facilita os processos de aprendizagem, sociabilização, comunicação, expressão e construção do conhecimento, e contribui para a sua saúde mental. Contribui ainda para a eficiência e o equilíbrio na idade adulta, dando origem a uma predisposição para o trabalho.                                                                                              
 
Através do brincar a criança experimenta, inventa e reinventa, analisa, compara e cria. Ao brincar sozinha ou com os pares, a criança aprende a organizar as suas ideias e a comunicar consigo mesma e com os outros. Desenvolve a sua imaginação e criatividade, a perceção, as capacidades sensório-motoras e linguísticas, bem como o sentido de cooperação e de relacionamento interpessoal.
O brincar promove diversos aspetos do desenvolvimento da criança, nomeadamente:
Afetividade: brincar com bonecos, ursinhos e outros brinquedos que permitem a dramatização de situações de vida potencia a resolução de problemas afetivos da criança;
Motricidade: brincar com bolas, chocalhos, jogos de encaixe e de empilhar permite o desenvolvimento da motricidade da criança;
Inteligência: jogos de tipo quebra–cabeça, construção e estratégia permitem o desenvolvimento do raciocínio lógico e abstrato;
Sociabilidade: nas brincadeiras com adultos ou com os pares a criança aprende a interagir, cooperar e relacionar-se com os outros, desenvolvendo competências de relação interpessoal;
Criatividade: brincar com marionetes, jogos de montar, disfarces, e instrumentos musicais potencia o desenvolvimento da imaginação e da criatividade.

Ao brincar, afeto, motricidade, linguagem, percepção, representação, memória e outras funções cognitivas estão profundamente interligados. A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança contribui para o processo de apropriação de signos sociais. Cria condições para uma transformação significativa da consciência infantil, por exigir das crianças formasmais complexas de relacionamento com o mundo. Por meio da brincadeira, a criança pequena exercita capacidades como: representar o mundo e distinguir pessoas. Ao brincar, a criança passa a compreenderas características dos objetos, seu funcionamento,os elementos da natureza e os acontecimentossociais.

A brincadeira permite a construção de novas possibilidades de ação e formas inéditas de arranjar os elementos do ambiente. Os objetos manipulados na brincadeira são usados de modo simbólico, como um substituto para outros, por intermédio de gestos imitativos reprodutores de posturas, expressões everbalizações que ocorrem no ambiente da criança. Ao imitar o outro, as crianças necessitam, captar o modelo em suas características básicas, percebendo-o em sua plasticidade perceptivo-postural, conforme se ajustam afetivamente a ele.

As interações infantis nas brincadeiras, quando a criança e seus parceiros confrontam suas próprias “zonas dedesenvolvimento proximal “, leva-os a representar a situação de forma cada vez mais abstrata e a construir novas estruturas autorreguladoras de ação, ou seja, modos pessoais historicamente construídos de pensar, sentir, memorizar, mover-se, gesticular, etc. A  ação criativa necessita da imaginação, que depende de rica e variada experiência prévia e se desenvolve especialmente por meio da brincadeira simbólica. A imaginação desenvolve-se por toda a vida. Ela é livre, embora ainda pobre na criança, ao passo que o adulto, por ter uma experiência mais diversificada, pode experimentar uma função imaginativa extremamente rica e madura.

A imaginação e a emoção estão vinculadas. Ao mesmo tempo em que as imagens da fantasia selecionam e recombinam elementos da realidade segundo o estado interior do indivíduo, os sentimentose alegrias de personagens imaginários o emocionam. Para se desenvolver, a função imaginativa depende da experiência, das necessidades e interesses, da capacidade combinativa exercitada na atividade de dar forma material aos seus frutos – os conhecimentos técnicos e as tradições, ou seja, os modelos de criação que influem no ser humano. 

Brincar significa aprender, pois cria um espaço para pensar, potenciando o desenvolvimento do raciocínio, do pensamento, das relações sociais, dos conhecimentos e da criatividade.

 

…Para além de tudo isto brincar é um direito de todas as crianças…

PLASTICIDADE= Capacidade de um sujeito para adaptar-se às condições ambiente.

 
 
 

TRABALHO PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL- ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

LEITURA PARA OS ALUNOS- FORMAÇÃO DE DOCENTE

Organização do Espaço e do Tempo na Educação Infantil

 
            A forma de organizar o trabalho deve possibilitar o envolvimento das crianças em sua construção, que terá dimensões diferentes se tomarmos como referência a idade das mesmas. Com as crianças bem pequenas, por exemplo, é fundamental observarmos sua linguagem, que se manifesta através dos gestos, olhares, choro... Nas maiores, é possível dialogar e compartilhar combinações. A ideia central é que as atividades planejadas diariamente devem contar com a participação das crianças garantindo às mesmas a construção das noções de tempo e de espaço, possibilitando-lhes a compreensão do modo como as situações sociais são organizadas e, sobretudo, permitindo ricas e variadas interações sociais.
 
              O cotidiano de uma escola infantil tem de prever momentos diferenciados que certamente não se organizarão da mesma forma para crianças maiores e menores. Diversos tipos de atividades envolverão a jornada diária das crianças e dos adultos: o horário da chega, a alimentação, a higiene, o repouso, as brincadeiras - os jogos diversificados - como o faz-de-conta, os jogos imitativos e motores, de exploração de materiais gráfico e plástico - os livros de histórias, as atividades coordenadas pelo adulto e outras.
 
 
              Para dispor tais atividades no tempo é fundamental organizá-las tendo presentes as necessidades biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene e à sua faixa etária; as necessidades psicológicas, que se referem às diferenças individuais como, por exemplo, o tempo e o ritmo que cada uma necessita para realizar as tarefas propostas; as necessidades sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida.
 
Alguns pontos servirão de norte e apoio para esta organização:
-Que tipo de atividades poderemos propor.
-Em que momentos são mais adequadas.
-Em que local serão melhor realizadas.
 
Atividades que envolvem o cuidado e a saúde são realizadas diariamente nas instituições de educação infantil e não podem ser consideradas na dimensão estrita de cuidados físicos. A dicotomia, muitas vezes vivida entre o cuidar e o educar deve começar a ser desmistificado. Todos os momentos podem ser pedagógicos e de cuidados no trabalho com crianças de zero a seis anos. Tudo dependerá da forma como se pensam e se procedem as ações. Ao promovê-las proporcionamos cuidados básicos, ao mesmo tempo em que atentamos para a construção da autonomia, dos conceitos, das habilidades, do conhecimento físico e social. Podemos exemplificar com atividades de:
Alimentação: progressivamente tornar a criança mais autônoma, trocar a mamadeira pelo copo, comer com a própria mão, mastigar alimentos mais sólidos, participar da higiene, da elaboração e da organização do local das refeições, servir-se do alimento.
Higiene: lavar as mãos com independência, vestir-se e despir-se, usar o banheiro de modo cada vez mais autônomo, guardar pertences e materiais individuais.

Sono: oportunizar locais adequados para o sono e repouso, tendo o cuidado de oportunizar atividades relaxantes para os que não queiram dormir.

É oportuno referir que as atividades podem se estruturar em torno de eixos organizadores, como temáticas, que, através de um fio condutor, poderão se explicitar de modo interessante e contextualizado para as crianças. Assim pode-se partir de uma situação problema, de um fato surgido na sala de aula ou na comunidade, de um relato interessantes que uma criança fez e organizar estratégias pedagógicas para a construção de um estudo de modo adequado à faixa etária dos alunos. Tanto nos berçários como nas pré-escolas esta prática, que denominamos projetos, pode se concretizar. Os projetos com bebês têm seus temas derivados basicamente da observação da educadora, da leitura que realiza de seu grupo de crianças, dos elementos adquiridos na sua formação e que a auxiliam a discernir sobre atividades que podem ser importantes ao desenvolvimento das crianças.
O Uso do Espaço Externo
Espaços de interligação para jogos tranquilos

Um gramado com árvores, bancos de praça de alturas diversas, mesa e bancos de cimento (permanentes) para desenvolver no pátio certas atividades que geralmente são realizadas apenas nas salas - como desenho, pintura, recorte, culinária. Fazer piquenique, tomar banho de sol com guarda-sol, cadeiras preguiçosas, redes baixinhas. Materiais como bolas, canos, buracos no chão, estradinhas de areia para brincar com carrinhos, vasos grandes com plantas e flores. Também pode-se ter um armário onde são guardados os materiais do pátio e que funcione, também, como um lugar onde os bebês possam brincar de esconde-esconde, de puxar gaveta, abrir, entrar e fechar a porta, se esconder. Um labirinto com plantas relativamente baixas para se esconder ou estar sozinho. Aquário ou terrário para observar. Espaço para museu com coleções das crianças.

Espaço para brinquedos de manipulação e construção

Estrutura de calhas com roda de água e bacias para brincar com a água complementado por objetos para flutuar, coar, com funil, medidores, areia e pedras. Madeiras de diferentes tamanhos - pequeninas e bem grandes - para a construção emateriais de marcenaria. Caixa de areia com materiais para construir, fazer bolos. Pedras, madeiras, barrinhas de ferro para empilhar, fazer suportes e construções.
Espaço estruturado para jogos de movimento

Carrinhos para as bicicletas, carrinhos de bebês, carrinhos-de-mão, carrinhos de lomba, skate, patinete, carrinhos grandes tipo uma carrocinha puxada pelo adulto para as crianças bem pequenas passearem. Equipamentos como: trepa-trepa com estrutura de metal, de corda ou de madeira. Escorregadores altos e baixos, de preferência um para os adultos acompanharem as crianças menores. Estruturas em madeira com escada, ponte pênsil e tábua para escorregar, túneis de cimento e de madeira, gira-gira, equipamentos de ginástica para as crianças se pendurarem etc. Piscinas e bacias de diferentes tamanhos, esteiras para tomar sol.

Espaço para jogos imitativos

Casinha de bonecas com materiais grandes e reais para uso das crianças, gabinete médico, instituto de beleza, escritório, banco. Cabanas só com cobertura para ficar juntos, conversar, ouvir histórias. Suporte móvel para teatro de marionetes. Cesto com roupas para dramatização, espelhos, pinturas e caixa de jóias.
A sugestão de organizar os espaços através de temas que os caracterizam tem sido uma prática bem-sucedida nesta organização em espaços semi-abertos e estruturantes. Assim podemos sugerir alguns cantos, considerando obviamente a faixa etária das crianças:
Cantos fixos:
  • Casa de bonecas com fogão, geladeira, TV, cama, mesa etc. objetos para utensílios de cozinha, quarto, banheiro... sala (estes poderão ser confeccionados com material de sucata).
  • Canto da fantasia com pedaços de pano, tule, chapéus, sapatos, roupas... espelho, maquiagens.
  • Canto da biblioteca com almofadas, tapetes, estante, painel de informações, livros, revistas e jornais.
  • Canto da garagem com tacos de madeira para construção, carros, trilhas, placas de sinais de trânsito.
  • Canto dos jogos e brinquedos com jogos de encaixe, de armar, quebra-cabeça, sucatas organizadas e variadas, peças de madeira.
Cantos alternativos:

Estes podem variar conforme o espaço físico, o interesse das crianças e os emas que estão sendo trabalhados.

  • Canto da música com instrumentos musicais comprados ou confeccionados, rádio, toca-fitas etc.
  • Canto do supermercado com embalagens vazias de diferentes produtos, sacos para empacotar, caixa registradora, dinheiro de papel e moedas, cartazes com nome de produtos, prateleiras.
  • Canto do cabeleireiro com espelho, maquiagens, rolos, escovas, grampos, secador de cabelos, bancada, cadeira, bacia, embalagem de xampu, cremes.
  • Canto do museu com objetos colecionados pelas crianças em passeios, viagens.
  • Canto da luz e da sombra com projetor de slides, lanternas, retroprojetor, filmes feitos pelas crianças, lençóis.
SUGESTÃO DE LEITURA PARA OS ALUNOS-FORMAÇÃO DE DOCENTE


TRABALHO PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL-O DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE, DA LINGUAGEM E DA COGNIÇÃO

 Conteúdo para os alunos do 2o Ano- FORMAÇÃO DE DOCENTE-
 
 
O DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE,
DA LINGUAGEM E DA COGNICÃO
        
O indivíduo vive imerso em um espaço em que tanto ele quanto os objetos que o rodeiam formam um conjunto de relações que se estruturam com grande complexidade: daí a necessidade de percebê-las e representá-las mentalmente.
         O desenvolvimento dele dar-se-á pela apropriação de linguagens e de formas cognitivas mais complexas existentes em seu contorno cultural, a qual ocorre nos inúmeros em que ele estabelece e percebe relações com elementos de sua cultua e as avalia.

1-) O DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE

         Desde o nascimento, graças à maturação do sistema nervoso e à realização de tarefas variadas com diferentes parceiros em situações cotidianas, a criança desenvolve seu corpo e os movimentos que com ele pode realizar. Os mecanismos que usa para orientar o tronco e as mãos em relação a um estímulo visual, por exemplo, são complexos e acionados à medida que ela manipula e encaixa objetos, lança-os longe e os recupera, os empurra, puxa, prende e solta. Locomove-se, assume posturas e expressa-se por gestos, que são cada vez mais ampliados.
           De início o recém-nascido pode apenas diferenciar seu próprio corpo do mundo que o rodeia. Depois toma a si mesmo como referência para perceber o entorno. Ao movimentar o corpo no espaço, recebe informações próprio-perceptivas (cinestésicas, labirínticas) e externo-perceptivas (especialmente visuais) necessárias parainterpretar e organizações relações entre os elementos,formulando uma representação daquele espaço.A motricidade também se desenvolve por meio da manipulação de objetos de diferentes formas, cores,volumes, pesos e texturas. Ao alterar sua colocação postural conforme lida com esses objetos, variando assuperfícies de contato com eles, a criança trabalha diversos segmentos corporais com contrações musculares de diferentes intensidades. Nesse esforço, ela se desenvolve.
          Se, até aproximadamente os 6 anos, a criança tem uma perspectiva egocêntrica na sua percepção das relações que estabelece com elementos do espaço-proximidade e distância, ordem e inclusão,continuidade e ruptura, etc.- a partir daquela idade vai assumir cada vez mais pontos de vista externosa si mesma para compreender o mundo.

2-)O DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO
        Os recursos de que as crianças dispõem, contudo, não constituem apenas atos motores, mas são instrumentos para a realização de atividades simbólicas, como por exemplo, marchar para ser um soldado ou arrastar-se com cuidado para ser um explorador de tesouros, simbolismos que aprende de sua cultura.
         Além disso, a criança nasce em um mundo onde estão presentes sistemas simbólicos diversos socialmente elaborados, particularmente o sistema linguístico. Este perpassa as atividades produzidas no ambiente humano em que a criança se desenvolve e permite-lhe apropriar-se da experiência das gerações precedentes.
         A capacidade de adquirir a língua de seu grupo é uma característica específica da espécie humana e supõe um equipamento anatômico e neurofisiológico adaptado, particularmente órgãos periféricos e sistema nervoso central apropriados e em adequado estado de funcionamento. Contudo, a aquisição da linguagem é um processo sócio-histórico.
         A formação de neurônios e sua migração para regiões apropriadas do cérebro são efetuadas quase que inteiramente durante o período de desenvolvimento pré-natal.  Entretanto, as fases neurais da linguagem não se restringem  definitivamente ao momento do nascimento. O córtex cerebral é dotado de grande plasticidade funcional dirante os primeiros  anos de vida. A especialização do hemisfério esquerdo para a linguagem, mesmo que dependa de uma disposição pré-formada. só se estabelece progressivamente, graças às interações da criança com parceiros linguísticos de seu ambiente.
         O desenvolvimento da linguagem apoia-se em forte motivação para se comunicar verbalmente como utra pessoa, motivação parcialmente inata, mas enriquecida durante o primeiro ano de vida nas experiências interpessoais com a mãe, pai, irmãos eoutros educadores.
         As crianças engajam-se, desde o primeiro momento, em um processo de comunicação no qual são estimuladas a desenvolver procedimentos que lhes permitem questionar o mundo e apropriar-se dele. Desde cedo o entorno humano empreende uma diligência ativa de integração do bebê em formas pré-construídas da língua: nas atividades conjuntas, parceiros mais experientes apresentam-lhe normas relativas tanto aos comportamentos e às formas de relações interpessoais como às palavras da língua e suas condições de uso.
          Com base nisso, as crianças se apropriam progressivamente das regras de ação e de comunicação que surgem em torno, pondo-as em prática em sua atividade  e em suas primerias produções verbais contextualizadas e organizadas de acordo com uma lógica implicativa.Cada descoberta provoca novas interrogações.
         O desenvolvimento da capacidade de perceber eproduzir sons da fala é o precursor mais direto dalinguagem. Os bebês logo discriminam sons, sãosensíveis a entonações, passam seletivamente areagir a sons próprios de sua língua maternaenquanto esquecem outros. Tal desenvolvimentovai se enriquecer com a formação da capacidadetanto de categorização de objetos, que será a baseda denominação e da referência, como de imitaçãoe memória, necessárias para reproduzir padrõesvocais e gestuais. Esse trabalho formativo seprolongará por toda a vida, especialmente por meioda educação escolar, e garantirá a aquisição,reprodução e transformação das significações sociais culturalmente construídas.
         Durante o primeiro ano de vida, diferentes capacidades comunicativas e cognitivas convergem para formar, em torno dos 8 a 10 meses, um conjunto de habilidades necessárias à emergência da competência linguística propriamente dita. Nessa fase há um início de compreensão, quando a criança dá respostas apropriadas a certos pedidos ou proibições. Logo se observa uma etapa de produção das primeiras palavras (em torno de 11 a 13 meses) e uma explosão do vocabulário (entre 18 a 20 meses), quando a criança experimenta a possibilidade de generalizar os vocábulos que domina. A emergência da capacidade de combinar palavras, ainda que de modo telegráfico, é detectada em torno de 20 meses, sendo seguida de um período de gramaticalização (com unício variado), quando a criança se preocupaem dominar a estrutura de sua língua, embora com criações própria (ex.: "Eu bebi e fazi").

          O sistema linguístico é operável em torno dos 4 a 5anos, época em que a criança domina o essencial do sistema fonológico, conhece o sentido e as condições de uso de muitas palavras em sua cultura e utiliza corretamente a maior parte das formas morfológicas e sintáticas de sua língua. A partir dos 5 anos ocorrem novos progressos.Tal sistema continua a se reorganizar e aperfeiçoar até a pré-adolescência, enriquecido pelas experiências culturais das crianças, particularmente por sua vivência escolar.
         A construção social dos conhecimentos em ambientes socioculturais específicos dependem assim da comunidade de intercâmbio à qual pertence o aprendiz e dos ambientes de aprendizagem criados como recurso para a aprendizagem. Nesses ambientes, tempos, espaços e atividades definem práticas sociais que trabalham diferentes competências ou instituem ritos de formação de habilidades e atitudes julgadas básicas para o desenvolvimento social das novas gerações.

3-)A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO INFANTIL
 
          O processo de aprendizagem, como já visto, evolui de uma participação imitativa sincrética, em que o parceiro mais experiente - geralmente o professor, mas pode ser também outro aluno ou o discurso existente no livro didático - empresta a criança suas funções psicológicas - sua forma de selecionar e relavcionar elementos, levantar hipóteses, etc. - até que ela possa apresentar um modo autônomo de apreender tarefa e as posições nela envolvidas.
           A construção social dos conhecimentos em ambientes socioculturais específicos depende assim da comunidade de intercâmbio à qual pertence o aprendiz e dos elementos de aprendizagem criados como recurso para aprendizagem. Nesses ambientes, tempos, espaços e atividades definem práticas sociais qua trabalahm diferentes competências ou instituem ritos de formação de habilidades e atitudes julgadas básicas para o desenvolvimento social das novas gerações. Saber mais sobre esse processo requer um aprofundamento de nosso conhecimento acerca das relações entre pensamento e linguagem.
          De início, pensamento e linguagem têm origens diversas. Há o pensar sensório-motor e a linguagem não cognitiva, por exemplo, os balbucios. No entanto, ambos os elementos convergem no desenvolvimento para a formação do pensamento discursivo.
          A habilidade da criança para refletir sobre a definição de uma palavra é uma capacidade multifacetada e de lento desenvolvimento, com precursores cognitivos e linguísticos.Na fase inicial de formação do conceito, busca das qualidades plásticas da palavra - ritmos, modulações, consonâncias - desempenha uma função importante, pois, para a criança pequena, a palavra não tem ainda força para dirigir seu pensamento.
         Incapaz de definir uma impressão, a criança simplesmente a exprime, usando uma linguagem exclamativa. Incapaz de “pensar” um fenômeno, fixando suas características essenciais e descartando as acessórias, ela verbaliza apenas seus elementos mais notáveis.
          A narrativa da criança pequena é, inicialmente um relato enumerativo de origem perceptiva e motora, reunindo objetos segundo a relação deles na atividade. O relato infantil de determinado caso ou evento não busca o equilíbrio entre causas e efeitos, a proporcionalidade entre ação e resultado, acoerência entre as partes. É formado pelo encadeamento de circunstâncias organizado segundo locuções ("então", "depois"), sendo a própria relação de tempo simples coincidência de circunstâncias.
           A descrição de algo pela criança requer-lhe coordenar as próprias impressões e processos mentais. Implica processo gestual, ideomotor, ou identificação do objeto consigo mesmo,estabilizando-o.Por sua vez, as tarefas de definir e de explicar supõem um movimento de isolamento de palavras dentro de um universo e sua reintegração em um todo, trazendo elementos perceptivos, linguísticos e cognitivos de modo fortemente indissociável.
         Para representar algo, a criança deve exteriorizá-lo como um objeto distinto, por meio de imagens que eliminem os elementos subjetivos e acentuem os traços mais estáveis e gerais. Contudo. essas imagens, das mais concretas às mais abstratas, acham-se coombinadas com atos e situações vivdas. Isso faz com que a experiência da criança apareça mesclada com seus desejos, lembránças e rotinas. Por isso, ao tentarem responder sobre o significado de uma palavra que lhe é apresentada, as crianças muitas vezes reúnem elementos de experiências anteriores e os ajustam a aspectos distintos de cada situação.
           Essa colagem de experiências, responsável pela definição das palavras, oferece um contexto de referência criado por fragmentos de discursos e memórias de situações. Com isso, os diferentes sentidos que uma palavra pode ter alternam-se, substituem-se, excluem-se, confrontam-se, dissociando o pensamento e produzindo disonância. 
           As respostas infantis parecem indicar a dificuldade do pensamento de identificar, diferenciar e relacionar sucessão, causalidade e pertinência de elementos, de estabelecer relações como as de lugar, tempo, movimento e causalidade.
           Os discursos dos professores, dos pais e da mídia interagem com as condições psicológicas das crianças em cada idade, produzindo importante combinação de processos pelos quais signos culturais são pessoalmente interpretados e apropriados por elas.Assim, no processo educativo, as iniciativas das crianças de atribuir sentido são confrontadas não apenas com aspectos perceptivos dos objetos e com relações que elas podem cognitivamente estabelecer com base neles, mas também com associações e explicações de senso comum, mitos ou representações sociais, discursos científicos, religiosos, politicos ou sanitários, e com definições dos professores.
           Na realidade a capacidade da criança de recombinar sinais esentidos, respondendo de forma sempre nova acada situação, interage com a tentativa sistemáticadas instituições educacionais de controlar suas respostas.  Para superar essa barreira, devemos transformar as formas como práticas educativas são pensadas e considerar a interação social como o elemento mais importante parapromover oportunidades de aprendizagem edesenvolvimento.

                  Para saber mais:
WALLON Henri. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 1989
Obs: Este conteúdo é cópia do livro "EDUCAÇÃO INFANTIL; fundamentos e métodos de Zilma Ramos de Oliveira -2a edição Editora Cortez- Capitulo IX pag 147 a 155.