28 de março de 2013

TRABALHO PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL-O DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE, DA LINGUAGEM E DA COGNIÇÃO

 Conteúdo para os alunos do 2o Ano- FORMAÇÃO DE DOCENTE-
 
 
O DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE,
DA LINGUAGEM E DA COGNICÃO
        
O indivíduo vive imerso em um espaço em que tanto ele quanto os objetos que o rodeiam formam um conjunto de relações que se estruturam com grande complexidade: daí a necessidade de percebê-las e representá-las mentalmente.
         O desenvolvimento dele dar-se-á pela apropriação de linguagens e de formas cognitivas mais complexas existentes em seu contorno cultural, a qual ocorre nos inúmeros em que ele estabelece e percebe relações com elementos de sua cultua e as avalia.

1-) O DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE

         Desde o nascimento, graças à maturação do sistema nervoso e à realização de tarefas variadas com diferentes parceiros em situações cotidianas, a criança desenvolve seu corpo e os movimentos que com ele pode realizar. Os mecanismos que usa para orientar o tronco e as mãos em relação a um estímulo visual, por exemplo, são complexos e acionados à medida que ela manipula e encaixa objetos, lança-os longe e os recupera, os empurra, puxa, prende e solta. Locomove-se, assume posturas e expressa-se por gestos, que são cada vez mais ampliados.
           De início o recém-nascido pode apenas diferenciar seu próprio corpo do mundo que o rodeia. Depois toma a si mesmo como referência para perceber o entorno. Ao movimentar o corpo no espaço, recebe informações próprio-perceptivas (cinestésicas, labirínticas) e externo-perceptivas (especialmente visuais) necessárias parainterpretar e organizações relações entre os elementos,formulando uma representação daquele espaço.A motricidade também se desenvolve por meio da manipulação de objetos de diferentes formas, cores,volumes, pesos e texturas. Ao alterar sua colocação postural conforme lida com esses objetos, variando assuperfícies de contato com eles, a criança trabalha diversos segmentos corporais com contrações musculares de diferentes intensidades. Nesse esforço, ela se desenvolve.
          Se, até aproximadamente os 6 anos, a criança tem uma perspectiva egocêntrica na sua percepção das relações que estabelece com elementos do espaço-proximidade e distância, ordem e inclusão,continuidade e ruptura, etc.- a partir daquela idade vai assumir cada vez mais pontos de vista externosa si mesma para compreender o mundo.

2-)O DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO
        Os recursos de que as crianças dispõem, contudo, não constituem apenas atos motores, mas são instrumentos para a realização de atividades simbólicas, como por exemplo, marchar para ser um soldado ou arrastar-se com cuidado para ser um explorador de tesouros, simbolismos que aprende de sua cultura.
         Além disso, a criança nasce em um mundo onde estão presentes sistemas simbólicos diversos socialmente elaborados, particularmente o sistema linguístico. Este perpassa as atividades produzidas no ambiente humano em que a criança se desenvolve e permite-lhe apropriar-se da experiência das gerações precedentes.
         A capacidade de adquirir a língua de seu grupo é uma característica específica da espécie humana e supõe um equipamento anatômico e neurofisiológico adaptado, particularmente órgãos periféricos e sistema nervoso central apropriados e em adequado estado de funcionamento. Contudo, a aquisição da linguagem é um processo sócio-histórico.
         A formação de neurônios e sua migração para regiões apropriadas do cérebro são efetuadas quase que inteiramente durante o período de desenvolvimento pré-natal.  Entretanto, as fases neurais da linguagem não se restringem  definitivamente ao momento do nascimento. O córtex cerebral é dotado de grande plasticidade funcional dirante os primeiros  anos de vida. A especialização do hemisfério esquerdo para a linguagem, mesmo que dependa de uma disposição pré-formada. só se estabelece progressivamente, graças às interações da criança com parceiros linguísticos de seu ambiente.
         O desenvolvimento da linguagem apoia-se em forte motivação para se comunicar verbalmente como utra pessoa, motivação parcialmente inata, mas enriquecida durante o primeiro ano de vida nas experiências interpessoais com a mãe, pai, irmãos eoutros educadores.
         As crianças engajam-se, desde o primeiro momento, em um processo de comunicação no qual são estimuladas a desenvolver procedimentos que lhes permitem questionar o mundo e apropriar-se dele. Desde cedo o entorno humano empreende uma diligência ativa de integração do bebê em formas pré-construídas da língua: nas atividades conjuntas, parceiros mais experientes apresentam-lhe normas relativas tanto aos comportamentos e às formas de relações interpessoais como às palavras da língua e suas condições de uso.
          Com base nisso, as crianças se apropriam progressivamente das regras de ação e de comunicação que surgem em torno, pondo-as em prática em sua atividade  e em suas primerias produções verbais contextualizadas e organizadas de acordo com uma lógica implicativa.Cada descoberta provoca novas interrogações.
         O desenvolvimento da capacidade de perceber eproduzir sons da fala é o precursor mais direto dalinguagem. Os bebês logo discriminam sons, sãosensíveis a entonações, passam seletivamente areagir a sons próprios de sua língua maternaenquanto esquecem outros. Tal desenvolvimentovai se enriquecer com a formação da capacidadetanto de categorização de objetos, que será a baseda denominação e da referência, como de imitaçãoe memória, necessárias para reproduzir padrõesvocais e gestuais. Esse trabalho formativo seprolongará por toda a vida, especialmente por meioda educação escolar, e garantirá a aquisição,reprodução e transformação das significações sociais culturalmente construídas.
         Durante o primeiro ano de vida, diferentes capacidades comunicativas e cognitivas convergem para formar, em torno dos 8 a 10 meses, um conjunto de habilidades necessárias à emergência da competência linguística propriamente dita. Nessa fase há um início de compreensão, quando a criança dá respostas apropriadas a certos pedidos ou proibições. Logo se observa uma etapa de produção das primeiras palavras (em torno de 11 a 13 meses) e uma explosão do vocabulário (entre 18 a 20 meses), quando a criança experimenta a possibilidade de generalizar os vocábulos que domina. A emergência da capacidade de combinar palavras, ainda que de modo telegráfico, é detectada em torno de 20 meses, sendo seguida de um período de gramaticalização (com unício variado), quando a criança se preocupaem dominar a estrutura de sua língua, embora com criações própria (ex.: "Eu bebi e fazi").

          O sistema linguístico é operável em torno dos 4 a 5anos, época em que a criança domina o essencial do sistema fonológico, conhece o sentido e as condições de uso de muitas palavras em sua cultura e utiliza corretamente a maior parte das formas morfológicas e sintáticas de sua língua. A partir dos 5 anos ocorrem novos progressos.Tal sistema continua a se reorganizar e aperfeiçoar até a pré-adolescência, enriquecido pelas experiências culturais das crianças, particularmente por sua vivência escolar.
         A construção social dos conhecimentos em ambientes socioculturais específicos dependem assim da comunidade de intercâmbio à qual pertence o aprendiz e dos ambientes de aprendizagem criados como recurso para a aprendizagem. Nesses ambientes, tempos, espaços e atividades definem práticas sociais que trabalham diferentes competências ou instituem ritos de formação de habilidades e atitudes julgadas básicas para o desenvolvimento social das novas gerações.

3-)A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO INFANTIL
 
          O processo de aprendizagem, como já visto, evolui de uma participação imitativa sincrética, em que o parceiro mais experiente - geralmente o professor, mas pode ser também outro aluno ou o discurso existente no livro didático - empresta a criança suas funções psicológicas - sua forma de selecionar e relavcionar elementos, levantar hipóteses, etc. - até que ela possa apresentar um modo autônomo de apreender tarefa e as posições nela envolvidas.
           A construção social dos conhecimentos em ambientes socioculturais específicos depende assim da comunidade de intercâmbio à qual pertence o aprendiz e dos elementos de aprendizagem criados como recurso para aprendizagem. Nesses ambientes, tempos, espaços e atividades definem práticas sociais qua trabalahm diferentes competências ou instituem ritos de formação de habilidades e atitudes julgadas básicas para o desenvolvimento social das novas gerações. Saber mais sobre esse processo requer um aprofundamento de nosso conhecimento acerca das relações entre pensamento e linguagem.
          De início, pensamento e linguagem têm origens diversas. Há o pensar sensório-motor e a linguagem não cognitiva, por exemplo, os balbucios. No entanto, ambos os elementos convergem no desenvolvimento para a formação do pensamento discursivo.
          A habilidade da criança para refletir sobre a definição de uma palavra é uma capacidade multifacetada e de lento desenvolvimento, com precursores cognitivos e linguísticos.Na fase inicial de formação do conceito, busca das qualidades plásticas da palavra - ritmos, modulações, consonâncias - desempenha uma função importante, pois, para a criança pequena, a palavra não tem ainda força para dirigir seu pensamento.
         Incapaz de definir uma impressão, a criança simplesmente a exprime, usando uma linguagem exclamativa. Incapaz de “pensar” um fenômeno, fixando suas características essenciais e descartando as acessórias, ela verbaliza apenas seus elementos mais notáveis.
          A narrativa da criança pequena é, inicialmente um relato enumerativo de origem perceptiva e motora, reunindo objetos segundo a relação deles na atividade. O relato infantil de determinado caso ou evento não busca o equilíbrio entre causas e efeitos, a proporcionalidade entre ação e resultado, acoerência entre as partes. É formado pelo encadeamento de circunstâncias organizado segundo locuções ("então", "depois"), sendo a própria relação de tempo simples coincidência de circunstâncias.
           A descrição de algo pela criança requer-lhe coordenar as próprias impressões e processos mentais. Implica processo gestual, ideomotor, ou identificação do objeto consigo mesmo,estabilizando-o.Por sua vez, as tarefas de definir e de explicar supõem um movimento de isolamento de palavras dentro de um universo e sua reintegração em um todo, trazendo elementos perceptivos, linguísticos e cognitivos de modo fortemente indissociável.
         Para representar algo, a criança deve exteriorizá-lo como um objeto distinto, por meio de imagens que eliminem os elementos subjetivos e acentuem os traços mais estáveis e gerais. Contudo. essas imagens, das mais concretas às mais abstratas, acham-se coombinadas com atos e situações vivdas. Isso faz com que a experiência da criança apareça mesclada com seus desejos, lembránças e rotinas. Por isso, ao tentarem responder sobre o significado de uma palavra que lhe é apresentada, as crianças muitas vezes reúnem elementos de experiências anteriores e os ajustam a aspectos distintos de cada situação.
           Essa colagem de experiências, responsável pela definição das palavras, oferece um contexto de referência criado por fragmentos de discursos e memórias de situações. Com isso, os diferentes sentidos que uma palavra pode ter alternam-se, substituem-se, excluem-se, confrontam-se, dissociando o pensamento e produzindo disonância. 
           As respostas infantis parecem indicar a dificuldade do pensamento de identificar, diferenciar e relacionar sucessão, causalidade e pertinência de elementos, de estabelecer relações como as de lugar, tempo, movimento e causalidade.
           Os discursos dos professores, dos pais e da mídia interagem com as condições psicológicas das crianças em cada idade, produzindo importante combinação de processos pelos quais signos culturais são pessoalmente interpretados e apropriados por elas.Assim, no processo educativo, as iniciativas das crianças de atribuir sentido são confrontadas não apenas com aspectos perceptivos dos objetos e com relações que elas podem cognitivamente estabelecer com base neles, mas também com associações e explicações de senso comum, mitos ou representações sociais, discursos científicos, religiosos, politicos ou sanitários, e com definições dos professores.
           Na realidade a capacidade da criança de recombinar sinais esentidos, respondendo de forma sempre nova acada situação, interage com a tentativa sistemáticadas instituições educacionais de controlar suas respostas.  Para superar essa barreira, devemos transformar as formas como práticas educativas são pensadas e considerar a interação social como o elemento mais importante parapromover oportunidades de aprendizagem edesenvolvimento.

                  Para saber mais:
WALLON Henri. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 1989
Obs: Este conteúdo é cópia do livro "EDUCAÇÃO INFANTIL; fundamentos e métodos de Zilma Ramos de Oliveira -2a edição Editora Cortez- Capitulo IX pag 147 a 155.